domingo, 30 de novembro de 2008

O espetáculo da vida


Cada vez mais o espetáculo da vida ocupa espaço nos meios de comunicação. E, o que é real e o que é "novela" se confunde, se mistura e, muitas vezes se torna uma coisa só. Os atores, atrizes e outros tantos coadjuvantes fazem de tudo para aparecer na mídia, para conseguirem um espaço e mostrar o "show do eu".
Porém, após conseguirem seu espaço, usando de seus talentos, a privacidade é esquecida, é comprometida e o espetáculo da vida vem à tona. A vida particular torna-se mais interessante do que suas atuações e, diante dessa situação, muitos perdem o controle, o ator Fábio Assunção é um exemplo claro disso.

O inferno astral de Fábio Assunção começou às vésperas de uma telenovela que ia ter o nome de Juízo Final, hoje, A Favorita. E, na qual, caberia a ele o papel de um deliquente irrecuperável (o Dodi, feito por Murilo Benício). Passou por mau momento numa delegacia de polícia em São Paulo ao ser flagrado, no seu flat, com um traficante de drogas. Não era enredo de ficção não, era a verdade nua e crua.

Aparentemente, a própria família de Fábio fez a denúncia, na presunção caridosa de que, eliminando-se a causa, eliminava-se o efeito. O ator tentou a volta por cima em Negócios da China, mas o ser humano por trás da máscara sucumbiu.

Esta é a história, sobre a qual, com aquele sadismo paradoxal de voyeur e de moralista, têm desaguado páginas longas e cavilosas. A agonia pública de um astro com carisma é de fato uma tristeza, mas a gente acredita que é mais solidário, até mesmo generoso investigar o fenômeno.

A TV é o holofote sob o qual querem se aninhar todos os ansiosos da fama. Fábio Assunção, celebridade relutante, sempre trafegou na contramão. Mas não é só a TV que chama hoje a atenção. A hiper-histeria midiática multiplica-se em todos os meios de comunicação, é o "show do eu". Show abastecido hoje por uma miríade de blogs, fotologs, pelo youtube, pelo facebook, pelo fascínio editorial e autovisual das biografias, sem falar no exibicionismo selvagem dos reality shows e de certos talk shows.

A intimidade, que o desafortunado Fábio Assunção tanto procurou resguardar, sobe ao ofertório da banalização. O espírito do folhetim prevalece. Os amigos, muy amigos, amplificam, em supostas manifestações piedosas, os suspiros de dramalhão. Os falsos agentes da moral caem de cacetada. Bom menino, mocinho virtuoso, protagonista (quase sempre) dos bons sentimentos, Fábio Assunção desabou sob o peso da demanda midiática de servir de exemplo e espelho. Não será o primeiro nem o único herói problemático a sucumbir, num descuido muito sintomático, à tentação de provar do lado podre da maçã.

Ante ao deleite deletério dos que hoje fazem da vida o despudor virtual de um videogame, no qual cabe tudo, menos o recato e o anonimato.

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